21 de outubro de 2017

HOTEL - Que mundo maravilhoso!


Saudações, meus nobres guardiões!

Este é o primeiro post da seção Um tiro no escuro, na qual abordaremos e falaremos sobre one-shots. E o primeiro que eu escolhei para falar sobre é HOTEL, do nosso querido e talentoso Boichi (você pode ter conhecido ele através de Sun-Ken Rock ou Dr. Stone).

HOTEL é, acima de tudo, um conto de ficção científica sobre sobrevivência.

Como é possível o ser humano e, principalmente, toda nossa fauna e flora, sobreviverem em um mundo regido pelo caos? Boichi foi capaz de pensar em uma manobra original e a inseriu em um contexto bastante coerente, criando uma das mais brilhantes histórias sobre esperança.

A ficção científica costuma trabalhar com extremos. Raramente vemos obras que abordam o meio termo.

Em um dos polos temos a possibilidade da expensão da humanidade pelo espaço, aonde o homem se faz presente em todos os principais pontos da galáxia. E no outro, temos nossa raça praticamente extinta, lutando para sobreviver em meio a fracas luzes de esperança.

A raça humana não foi totalmente extinta, porém, existem possibilidades e condições dela voltar ao seu resplendor e alcançar as estrelas. É disso que HOTEL trata.

O aumento das temperaturas devido ao efeito estufa e a elevação do nível do mar fizeram os cientistas estipularem um prazo de validade para a raça humana. Doutor Dokins, um renomado cientista, sugere a criação de uma grande nave para levar uma parcela da humanidade até um planeta com condições compatíveis com o ser humano. Porém, a viagem levaria milhares de anos, e a única coisa que ela seria capaz de salvar seria o precioso DNA humano.

A outra proposta que Dokins sugere é uma ideia de seu pesquisador, Doutor Anno: um sistema de contenção capaz de preservar o DNA de todos os organismos vivos, em forma de uma gigantesca torre de mais de quatro quilômetros de altura. A torre seria um grande pedido de desculpas do homem ao planeta Terra. Um presente de despedida por tudo de ruim causado à Mãe Natureza.


Surge Louis, a Inteligência Artificial que regeria a torre e se tornaria responsável por cuidar dos últimos resquícios da vida terrestre. Nomeado em homenagem a Louis Armstrong, que cantou a música What a Wonderful World. A letra dessa famosa e clássica música fala sobre um mundo vivo, otimista, bonito. Um mundo maravilhoso, em paralelo ao passado glorioso do nosso planeta.


Somos brindados com uma sequência de lindos painéis ao som de What a Wonderful World. Se você tinha dúvidas do talento de Boichi, provavelmente não terá mais depois dessas páginas. A combinação e harmonização das ilustrações com a letra é incrível, principalmente no significado que tudo aquilo representa dentro da obra.


A torre passa a ser conhecida como hotel, devido aos inúmeros hospedes pelos quais ela era responsável. Louis carrega a responsabilidade de ser o gerente do resto da esperança humana. Durante incríveis 27 milhões de anos, ele se aprimorou e reparou incansavelmente, sem nunca se esquecer do compromisso de honrar os sonhos de seu criador. Apesar de ser artificial, Louis foi capaz de manter vivo dentro de seu sistema operacional um dos mais nobres sentimentos humanos: a perseverança. Mesmo sem a capacidade de computar um futuro otimista, ele não abandonou sua programação primária.

Em seus últimos momentos de vida, Louis se depara com a chegada de robôs que evoluíram através do sistema operacional instalado na nave que um dia carregou a humanidade em busca de um destino impossível. O DNA que eles carregavam se perdeu, e devido a isso, voltaram a origem para poder restaurar a vida terrestre no planeta. A Terra havia, finalmente, se restaurado.

Tendo consciência de que não seria capaz de continuar com propósito do qual havia sido criado, o Gerente finalmente pode se aposentar. Agora haveria quem pudesse trazer vida novamente ao seu estimado planeta.


HOTEL é cativante, emocionante, inesquecível. Uma história simples, porém carregada de sentimento e significado. Boichi nos presenteia com uma obra marcante, aonde demonstra que o fim não é o final enquanto a chama da esperança se mantiver acesa.

"Minha última memória foi a visão do azul do mar, finalmente de volta".