11 de setembro de 2017

Saitama - A maldição da invencibilidade


Saudações, guardiões!

Este é o primeiro post de uma seção aonde farei uma "análise" de alguns personagens que eu particularmente acho bastante interessantes. É uma visão bem pessoal, já vou avisando, então pode ser que tenha muita coisa que você não concorde, assim como muita coisa que talvez já tenha passado pela sua cabeça.

E começando, por ele, meu pseudônino: Saitama.

O héroi mais poderoso de todos.
Ele é o protagonista de One Punch-Man, uma das web comics de maior sucesso no Japão, mal desenhada por ONE e mais tarde transformada em mangá pelas mãos do deus Yusuke Murata. Como o nome da obra sugere, Saitama é capaz de derrotar qualquer inimigo, seja ele quem for e o que for, com apenas um único soco. Essa é a premissa da obra, e também, o maior dilema de seu personagem principal.

Saitama não passou por nenhum tipo de experiência insana, ou recebeu poderes de alguma entidade sobrenatural. Ele apenas treinou. E não foi pouco. Treinou durante três anos até, literalmente, seus cabelos caírem. Mas o que era pra ser um simples treinamento de condicionamento corporal, acabou se tornando sua maior maldição: ele se tornou poderoso demais. E isso é algo ruim? Para ele... podemos dizer que sim.

Apesar de se considerar um herói, ele não é altruísta. Ser um herói nunca passou de um hobby, como ele mesmo afirma. Ele não ajudava ninguém pela simples vontade de ajudar. Ajudava pois queria um desafio. Algo que colocasse a prova toda sua capacidade e poder. Saitama não é um herói de verdade... é só alguém entediado.

Ele não liga, não se importa e não faz questão de esconder isso... Podemos até dizer que a sinceridade é uma das suas principais qualidades. Ele segue a filosofia do "faça o que quiser, mas não encha o meu saco".

Mas sua principal característica é o seu grande vazio existencial. Seu olhar de peixe morto não é apenas preguiça do ONE em desenhar um rosto mais detalhado, mas sim um modo de demonstrar sua falta de emoções. Saitama é alguém em busca de algo que preencha seu coração, assim como todos nós buscamos em algum momento de nossas vidas.

Tanto poder... para nada.

O que eu me tornei?

Ninguém ta livre da crise.
Nos primeiros capítulos temos um pequeno flashback do passado de Saitama: ele era um homem comum, assalariado, que havia acabado de perder uma oportunidade de emprego. Ele viu uma criança ser atacada por um monstro, e mesmo sem nenhuma habilidade especial, fez o possível para ajudar. Essa é a primeira vez, e até agora a única, que eu vemos ele agindo verdadeiramente como um herói. A partir deste momento, ele resolveu se dedicar a um intenso treinamento para ficar mais poderoso.

Tendo esse detalhe do seu passado em mente e colocando em comparação ao seu estado atual, eu lhes faço uma pergunta: Saitama perdeu a sua humanidade em troca de tanto poder? Sua falta de empatia, de emoções, sentimentos... deriva do fato de que ele ultrapassou os limites de um humano comum?

Ele enfrenta inúmeros inimigos ao longo da obra, mas nunca nenhum páreo para o seu soco. Essa é a razão de sua amargura. A busca por algo que justifique seu poder é o que motiva Saitama a continuar nesse hobby. Ele está preso em um looping sem fim de batalhas insignificantes e inimigos patéticos.

A seguir, duas páginas do capítulo 5 (eu tive que tirar fotos dos meus mangás, desculpe a qualidade) que ilustram bem o que eu falo.


Em contraste com os famosos heróis dos quadrinhos americanos, Saitama é um personagem controverso. Enquanto heróis tradicionais lutam pelo bem e buscam formas de evoluírem para se tornarem cada vez mais aptos de protegerem aqueles que amam, Saitama trilha um outro caminho menos glorioso, fugindo do clichê do herói padrão. Ele não tem quem proteger, já que não se importa com os seus semelhantes, e até mesmo seus amigos parecem ser um tremendo inconveniente. Saitama age por mera conveniência, sem ambição por ganhos pessoais ou reconhecimento público. Não possuindo senso de urgência quando uma ameaça surge, as razões que o levam a enfrentar algum inimigo variam desde a preservação de seu apartamento ou seu mercado preferido até cumprir as metas e exigências da Associação de Heróis para garantir seu salário como herói registrado. Nunca é visando o bem estar maior. É, dá quase a impressão que ele é um anti-herói... e não seria mesmo?

Percebemos através dele que poder nem sempre é a resposta. Saitama é o humano mais poderoso que existe e possui a capacidade de varrer todo o mal da face da Terra. E ele não o faz simplesmente porque não seria desafio algum. Haveria algum ganho pessoal nisso tudo? Não existe realização se não houver sentimento envolvido.


O Saitama jovem, energético, sorridente, que é demonstrado nos flashbacks, também é um paralelo a nossa juventude. A juventude é a fase dos planos, dos desejos, dos objetivos, dos sonhos. É quando começamos a moldar nosso futuro com base em nossas esperanças. Você percebe que o Saitama era assim. Não tão superficialmente, mas ele era um cara com vontades. Ainda sem ter em mente o poder que viria a ter, ele só ansiava ser capaz de vencer seus obstáculos.

Com o passar dos anos, nós percebemos que a vida é muito mais dura do que imaginávamos. Você recebe um banho de água fria, fazendo sentir o peso dos deveres e das responsabilidades. Já não temos a mesma energia de antes, e nos tornamos mais tensos, preocupados. Algumas pessoas perdem a capacidade de sorrir, quando o cotidiano pesa mais que sua força de vontade. Ao contrário de muitos, Saitama conseguiu a façanha de atingir seu principal objetivo. O problema é que ele não pensou no que fazer depois disso.

São esses aspectos que o tornam mais humano que a maioria dos personagens. Ele pode não ser um escoteiro, como o Super-Homem, ou um rapaz esforçado e bondoso, como o Homem-Aranha, mas ele é como nós, jovens tristes e cansados: alguém procurando uma razão para justificar sua existência.

E eu realmente espero que até o final da obra ele seja capaz de preencher o vazio em seu peito.

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Espero que tenham gostado dessa minha primeira análise e que o texto faça algum sentido. Não esqueçam de comentar e dizer suas próprias conclusões a respeito dele. Valeu.